segunda-feira, 18 de março de 2013

Lucian Freud / Pintura do filho



PINTURA DO FILHO
SOBRE A AGONIA DO PAI PINTOR

David Freud saiu de casa no colo da mãe e viveu afastado do pai, o pintor Lucian Freud, por 47 anos. O resgate entre os dois se deu no leito de morte de Lucian, quando a pintura do filho retratou a agonia de morte do pai pintor.

Lucian Freud por ele mesmo – Auto-retratos 


Foi pouco o tempo que tiveram. Lucian Freud estava em seus últimos dias de vida e David tinha muitas perguntas a fazer. No entanto, não as fez, foram substituídas por um bloco de desenho onde captou as últimas imagens de um pai lendário e um dos maiores pintores contemporâneos, que, aos 88 anos, tinha saltantes olhos azuis brilhantes em um rosto enrugado, sugado pela vida que se esvaía.

O filho pintor fez vários retratos do pai, concebidos em sua cabeceira, em West London. As pinturas contribuem para um relato comovente de perda e exploração de sentimentos fortes, como os de frustração, raiva, confusão e arrependimento.

Lucian Freud um homem mulherengo e um pai ausente

Lucian Freud foi pai de 14 crianças paridas por várias mulheres e todas completamente afastadas dele. Quando David Freud nasceu (1964), a libido de Lucian não conhecia limites. Na época já tinha duas filhas, Annie e Annabel, com Kitty Garman, filha do escultor Jacob Epstein. E, enquanto convivia com a mãe de David, Katherine McAdam, com quem teve quatro filhos (Jane, Paul, Lucy e David), teve outros cincos com Suzy Boyt, uma ex-aluna da Escola de Arte Slade. 

A família de David algumas vezes teve que lutar para sobreviver financeiramente, chegando a ter cortes de luz em casa. O menino, para não magoar a mãe, não falava sobre a ausência do pai. Mas se alguém lhe perguntava onde seu pai estava, dizia que ele havia morrido na guerra. O menino matava o que estava aparentemente morto e assim manteve por muito tempo.

Primeiro encontro entre David e Lucian Freud

Pai e filho só se conheceram quando David tinha 23 anos, levado por sua prima Emma Freud (filha de um irmão distante de Lucian). Encontraram-se no Mark’s Club, um clube exclusivo em Mayfair (Londres). David conta que Lucian parecia nervoso no início da conversa e enquanto estiveram juntos houve várias pausas. Por seu lado, o jovem também estava nervoso e assustado, mas feliz: “Eu não queria estragar tudo. Eu queria que ele gostasse de mim". 

Outro detalhe que lhe chamou a atenção foi sua semelhança com o pai. Durante o encontro preferiu falar sobre o momento pessoal que vivia, reservando as emoções do passado ou seu relacionamento com a mãe.

Lucian Freud admitiu ao filho: "Eu sou egoista". Mas não se desculpou por esse defeito. David explicou o que entendeu do comentário do pai:

"O que ele quis dizer, é que ele levou a sério a si mesmo como o artista consumado. Quando você dá tanto num campo, outros têm que sofrer. Ele nunca fingiu ser outra coisa senão o que era. Todas as mulheres com as quais ficou escolheram estar na relação com ele. Uma coisa que minha mãe disse a seu respeito era que ele sempre havia sido honesto com ela. Ele não mentiu."
Ao término do encontro, separaram-se sem um único aperto de mão.

As pinturas de David

As pinturas de David Freud parecem oferecer uma saída para sua dor e até mesmo a chance de uma reconciliação póstuma. É possível perceber que muitas delas foram executadas com ternura e intimidade, mas também indicam a complexa relação do pintor com seu tema, sugerindo um consolo tardio e a distância inevitável da pessoa perdida. Ser o filho do retratado, mesmo um célebre artista, não garantiu a David nenhum privilégio.
Além das pinturas em tela, David também produziu uma série de impressões nas quais empregou materiais diferenciados e técnicas não convencionais.
"Eu senti que ele era mais meu, depois de morto. Eu era capaz de digeri-lo sem barreiras. Ele estava mais disponível para mim". David Freud









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