
PINTURA DO FILHO
SOBRE A AGONIA DO PAI PINTOR
David Freud saiu de casa no colo da mãe e viveu afastado do pai, o pintor Lucian Freud, por 47 anos. O resgate entre os dois se deu no leito de morte de Lucian, quando a pintura do filho retratou a agonia de morte do pai pintor.
Lucian Freud por ele mesmo – Auto-retratos
Foi pouco o tempo que tiveram. Lucian Freud estava em seus últimos dias de vida e David tinha muitas perguntas a fazer. No entanto, não as fez, foram substituídas por um bloco de desenho onde captou as últimas imagens de um pai lendário e um dos maiores pintores contemporâneos, que, aos 88 anos, tinha saltantes olhos azuis brilhantes em um rosto enrugado, sugado pela vida que se esvaía.O filho pintor fez vários retratos do pai, concebidos em sua cabeceira, em West London. As pinturas contribuem para um relato comovente de perda e exploração de sentimentos fortes, como os de frustração, raiva, confusão e arrependimento.
Lucian Freud um homem mulherengo e um pai ausente
Lucian Freud foi pai de 14 crianças paridas por várias mulheres e todas completamente afastadas dele. Quando David Freud nasceu (1964), a libido de Lucian não conhecia limites. Na época já tinha duas filhas, Annie e Annabel, com Kitty Garman, filha do escultor Jacob Epstein. E, enquanto convivia com a mãe de David, Katherine McAdam, com quem teve quatro filhos (Jane, Paul, Lucy e David), teve outros cincos com Suzy Boyt, uma ex-aluna da Escola de Arte Slade.
A família de David algumas vezes teve que lutar para sobreviver financeiramente, chegando a ter cortes de luz em casa. O menino, para não magoar a mãe, não falava sobre a ausência do pai. Mas se alguém lhe perguntava onde seu pai estava, dizia que ele havia morrido na guerra. O menino matava o que estava aparentemente morto e assim manteve por muito tempo.
Primeiro encontro entre David e Lucian Freud
Pai e filho só se conheceram quando David tinha 23 anos, levado por sua prima Emma Freud (filha de um irmão distante de Lucian). Encontraram-se no Mark’s Club, um clube exclusivo em Mayfair (Londres). David conta que Lucian parecia nervoso no início da conversa e enquanto estiveram juntos houve várias pausas. Por seu lado, o jovem também estava nervoso e assustado, mas feliz: “Eu não queria estragar tudo. Eu queria que ele gostasse de mim".
Outro detalhe que lhe chamou a atenção foi sua semelhança com o pai. Durante o encontro preferiu falar sobre o momento pessoal que vivia, reservando as emoções do passado ou seu relacionamento com a mãe.
Lucian Freud admitiu ao filho: "Eu sou egoista". Mas não se desculpou por esse defeito. David explicou o que entendeu do comentário do pai:
Lucian Freud admitiu ao filho: "Eu sou egoista". Mas não se desculpou por esse defeito. David explicou o que entendeu do comentário do pai:
"O que ele quis dizer, é que ele levou a sério a si mesmo como o artista consumado. Quando você dá tanto num campo, outros têm que sofrer. Ele nunca fingiu ser outra coisa senão o que era. Todas as mulheres com as quais ficou escolheram estar na relação com ele. Uma coisa que minha mãe disse a seu respeito era que ele sempre havia sido honesto com ela. Ele não mentiu."
Ao término do encontro, separaram-se sem um único aperto de mão.
As pinturas de David
As pinturas de David Freud parecem oferecer uma saída para sua dor e até mesmo a chance de uma reconciliação póstuma. É possível perceber que muitas delas foram executadas com ternura e intimidade, mas também indicam a complexa relação do pintor com seu tema, sugerindo um consolo tardio e a distância inevitável da pessoa perdida. Ser o filho do retratado, mesmo um célebre artista, não garantiu a David nenhum privilégio.
Além das pinturas em tela, David também produziu uma série de impressões nas quais empregou materiais diferenciados e técnicas não convencionais.
"Eu senti que ele era mais meu, depois de morto. Eu era capaz de digeri-lo sem barreiras. Ele estava mais disponível para mim". David Freud
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