José Emilio Pacheco
TRATADO DO DESESPERO
Sempre medita a água do aquário.
Pensa no peixe solobre e em seu voo
réptil, asas breves de silêncio.
Entranhado em penetráveis, líquidos
passadiços em azougue onde fende
uma sentença de tigre, sua condenação
à claridade perpétua no rio imóvel.
Quer fundir-se no ar, nos abismos
vorazes de asfixia, ir ao fundo
do marulho do ar que envolve
sua neutra saudade por todas partes.
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