sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Morre em Paris o filósofo e ensaísta Tzvetan Todorov


Morre em Paris o filósofo e ensaísta Tzvetan Todorov

Pensador franco-búlgaro refletiu em suas obras o que considerava como tendências totalitárias nas democracias contemporâneas


ÁLEX VICENTE
Paris 7 FEV 2017 - 13:36 COT
O filósofo Tzvetan Todorov, em sua casa em Paris. ERIC HADJ
O pensador Tzvetan Todorov (nascido em Sófia, na Bulgária, em 1939), considerado um dos grandes intelectuais contemporâneos, morreu nesta terça-feira em Paris (França) aos 77 anos. Educado na Bulgária comunista, vivia na França desde 1963. Linguista, filósofo, historiador, crítico e teórico literário, o autor de ensaios como L’Expérience Totalitaire (a experiência totalitária) ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias de Ciências Sociais em 2008, na Espanha.


Embora a Bulgária não fosse uma ditadura tão terrível como a da URSS, o que se passou na Alemanha nazista e na Rússia de Stalin provocou neste pensador franco-búlgaro reflexões que reuniu em Insoumis (insubmissos), seu último ensaio, sobre o qual falou a EL PAÍS em uma entrevista no ano passado: “Há formas de manter a dignidade moral em circunstâncias extremas”, disse naquela ocasião, quando repassou oito perfis de personagens que, como mostra em sua obra, se opuseram às barbáries do século XX, como Alexander Soljenitsyn, contra os soviéticos, ou a francesa Germaine Tillion, contra a Alemanha nazista. “Os nazistas e os governantes da Rússia comunista não eram a mesma coisa: tinham muitas diferenças. Mas os unia o ódio ao outro, ao que não os obedecesse”, afirmou então.
O filósofo também observou, em obras como L’Expérience Totalitaire (2010) e O Medo dos Bárbaros: Para Além do Choque das Civilizações (2010), o que considerava como tendências totalitárias nas democracias contemporâneas: a xenofobia, a falta de pluralismo e a expulsão dos imigrantes. “Este medo aos imigrantes, ao outro, aos bárbaros, será nosso grande primeiro conflito no século XXI”, disse em entrevista a EL PAÍS em 2010, anos antes da crise dos refugiados que hoje alimenta na União Europeia a ascensão de forças eurofóbicas de extrema direita.
Considerado um dos maiores intelectuais de nosso tempo, Todorov deu aulas na Escola Prática de Altos Estudos e na Universidade Yale, e ministrou suas aulas magistrais também nas Universidades de Nova York, Colúmbia, Harvard e Califórnia, nos Estados Unidos.
Desde 1987 dirigia o Centro de Pesquisas sobre as Artes e a Linguagem, do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), como destaca a editora do autor na Espanha, a Galaxia Gutenberg. Entre outros prêmios, foi distinguido com a medalha da Ordem das Artes e das Letras, na França, e o prêmio Príncipe de Astúrias de Ciências Sociais 2008, na Espanha.
Durante sua carreira, publicou diversos trabalhos, entre os quais Mikhaïl Bakhtine, le Principe Dialogique (Mikhail Bakhtin: o princípio dialógico) (1981), Les Morales de L’Histoire (as morais da história) (1991), Éloge du Quotidien : Essai sur la Peinture Hollandaise du XVII (elogio do cotidiano: ensaio sobre a pintura holandesa do XVII) (1993) e L'Esprit des Lumières (o espírito do Iluminismo) (2006). Todorov também dedicou parte importante de sua obra ao estudo da pintura e como ela reflete as mudanças no pensamento e nos valores das sociedades europeias, e como também participa deles. Dedicou-se ainda ao estudo do pintor espanhol Francisco de Goya.


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