terça-feira, 18 de novembro de 2014

Manoel de Barros / A namorada



Manoel de Barros
A NAMORADA

Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.


Manoel de Barros
Tratado geral das grandezas do ínfimo

Rio de Janeiro, Editora Record, 2001, pág. 17



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