Tímido ao ser abordado em público, Dalton Trevisan afirma não ser quem é
MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
07/05/2015 02h05
Passava um pouco das 10h quando o Vampiro saiu da tumba. O céu cinza e a casa lúgubre remetiam a alguma zona remota da Transilvânia, a terra do conde Drácula. Mas estávamos em Curitiba, numa manhã fria de terça-feira, de ventos cortantes.
O Vampiro de Curitiba é repleto de singularidades. Circula apenas à luz do dia, de boné enterrado na cabeça, jaqueta, calça jeans e tênis, sempre olhando para o chão.
Com quase 90, Rubem escreve diariamente e puxa ferro na academia
Aparenta ter uns 20 anos a menos do que os 90 que completa mês que vem. É um senhor de estatura mediana, magro, de pele clara e cabelos brancos. O semblante possui uma quase candura, mas pode inspirar também um pavor vampiresco.
Após alguns segundos de hesitação, a reportagem o abordou numa esquina praticamente vazia. "Dalton Trevisan, com licença." Sem parar de andar, lançou de soslaio um olhar fuzilador. "Não sou Dalton", disse com firmeza. Ouviu em silêncio que a Folha preparava uma edição sobre seu aniversário e que gostaria de tentar o impossível, uma entrevista com ele.
"Já sei que você estava assediando meus amigos. Me deixe em paz", desconversou.
Uns dias antes dessa tentativa de conversa, um amigo do escritor relatou por e-mail: "Dalton está arisco. Sabe que vocês preparam matéria".
Após uma última insistência para responder ao menos uma pergunta, o mais recluso escritor brasileiro arrematou: "Não faço aniversário. E não falo. Está mais do que dito que eu não quero falar de nada".
A reportagem se despediu então com um pedido de desculpas, e Dalton seguiu seu percurso. Neste dia almoçou em um restaurante vegetariano (seu prato predileto da casa, sopa de beterraba, não foi servido) e tomou uma xícara de café com leite num quiosque do shopping da frente, onde vai quase diariamente.
HÁBITOS ANTIGOS
Dalton é um homem de hábitos arraigados. O mais marcante (e famoso) deles é o de isolar-se. Foge de exposição como um vampiro da cruz.
Concedeu sua última entrevista à imprensa há mais de 40 anos. Não aparece em eventos literários. Fotos, antigas ou recentes, são raríssimas. Pouquíssimos sabem o número de seu telefone (e os que sabem evitam ligar).
O círculo de amigos de Dalton é bastante restrito. É regido por um código interno severo: falar publicamente sobre ele pode acarretar o rompimento da amizade.
"O Dalton estabeleceu criteriosamente que a gente não pode fazer qualquer referência a ele. Uma vez me desviei um pouco e me arrependi profundamente. Ele ficou muito bravo", disse Hilton Trevisan, 92, irmão do autor.
Um exemplo famoso disso foi o rompimento com o escritor Miguel Sanches Neto, há uns 15 anos. Segundo declarações do ex-pupilo, a relação chegou ao fim porque Dalton atribuiu a ele informações sobre seus hábitos passadas a um jornalista.
Um pouco depois Sanches Neto começou a escrever "Chá das Cinco com o Vampiro", publicado em 2010, romance que enfoca, com muitos detalhes verídicos, o ambiente literário de Curitiba -e especialmente Dalton.
O Vampiro partiu para o ataque no poema "Hiena Papuda", em que chama Sanches Neto de "delator premiado".
De pista em pista, é possível juntar algumas peças do quebra-cabeça. Dalton continua a escrever todas as manhãs. A editora Record informou que não há nenhum novo livro em vista, mas amigos contam que o autor está sempre trabalhando em novas histórias ou na reelaboração, em geral mais sucinta e direta, de antigos contos. O mais recente livro de Dalton, "O Beijo na Nuca", foi publicado no ano passado. Muito prolífico, lançou sete livros nos últimos dez anos.
Um pouco antes do almoço sai para suas caminhadas pelo centro da cidade. Não tem problemas sérios de saúde. É bastante cuidadoso com a alimentação.
Mora sozinho numa casa de esquina bastante deteriorada. O terreno é grande -falam em até 5.000 m². Ao lado funciona uma sauna gay. Após queixas de Dalton, os proprietários tomaram providências para diminuir os barulhos.
Há testemunhos de que Dalton teria hoje uma namorada de menos de 30 anos, pesquisadora da obra dele. Mas mesmo os amigos mais íntimos do autor pouco sabem de sua vida privada.
Os bate-papos com ele giram basicamente em torno de dois temas, literatura e cinema.
Dalton é filho de uma família de classe média alta de origem italiana. O pai era dono de muitos imóveis e de uma fábrica de cerâmica e vidros.
Formou-se em direito pela UFPR, mas pouco exerceu a profissão. Foi casado por mais de 40 anos com Yole Maria Bonato Trevisan, tia do atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT).
As raras pessoas que foram próximas ao casal contam que o casamento passou por muitos percalços porque Dalton "era muito difícil". Tiveram duas filhas, Rosana e Isabel. Yole morreu de câncer em maio de 1998, aos 66.
Isabel, filha com quem tinha mais afinidade, morreu da mesma doença um pouco antes, com menos de 40. Em Curitiba moram os dois irmãos do escritor, a filha e duas netas. Dalton não mantém muito contato com nenhum deles.
Dos amigos ainda vivos, poucos conheceram Yole ou ouviram algum comentário de Dalton sobre ela. Alguns nem mesmo sabem responder se o escritor teve filhos e netos.
"Ele vive no mundo dele, na própria imaginação, que é muito rica. É a vida que ele escolheu", diz um parente.
ENCOMENDAS
Muito da ligação de Dalton com o mundo real se dá por meio da Livraria do Chain, no centro de Curitiba. É lá que o autor recebe encomendas, recados de amigos e pedidos de autógrafo deixados por fãs.
O proprietário é Aramis Chain, um simpático senhor de 72 anos de origem alemã, ucraniana e libanesa, casado com uma chinesa.
"Ele vem aqui, falamos de literatura, mas nada sobre vida pessoal. Eu não o apresento para os clientes, ninguém o reconhece. Ele pega uns livros e vai dar um volta, não sei por onde", comenta o livreiro Aramis Chain, 72.
A livraria serve ainda de contato entre Dalton e sua editora, a Record.Dalton escreve cartas à mão, que são escanedas na Livraria do Chain e remetidas por e-mail para a editora.
"Pode parecer uma comunicação formal, não deixa de ser, sobretudo se considerado o caráter excepcional de que a correspondência por carta se revestiu desde o surgimento do e-mail, mas é algo natural para nós, normal, e que se baseia no hábito, no costume, numa cultura de relacionamento de muitos anos -o que, por si só, carrega intimidade e afeto", afirma Carlos Andreazza, editor-executivo da Record.
Dalton publica pela Record desde 1978. Mesmo assim, o presidente da editora, Sérgio Machado, conta nunca tê-lo visto.
"Nos comunicamos por meio da Livraria do Chain. Eu ligo lá e digo que preciso falar com ele. Aí eles passam o recado."
TIMIDEZ
Dalton justifica sua reclusão alegando ser muito tímido. Os que convivem com ele garantem que é falante, bem-humorado. E muito curioso.
Embora tão cioso de sua privacidade, não se furta a escarafunchar a vida dos outros. Um amigo descreve os encontros como verdadeiros interrogatórios.
"A gente se reunia nas cafeterias, e ele fazia uma série de perguntas sobre passagens das nossas vidas, nossos amores e trabalhos. Eu também contava histórias de outros pessoas pra ele, casos que vi na rua. Depois ele dava uma 'daltonizada' e transformava tudo em conto. Ainda hoje ele tem diversos 'informantes', que fornecem histórias dos tipos marginais de Curitiba", relata o jornalista Carlos Alberto Pessôa, 72.
"Ele realmente chupa histórias das pessoas, como um vampiro", confirma outro amigo.
Numa rara entrevista que concedeu em 1968 ao jornalista e escritor Luiz Vilela, publicada no "Jornal da Tarde", Dalton declarou que todo "escritor é um monstro moral".
"O escritor é uma pessoa que não merece nenhuma confiança. Um amigo chega e me conta as maiores dores; eu escuto com atenção, mas estou é recolhendo material para mais um conto. E eu sei disso na hora. Surge então a má consciência. Sei que estou fazendo assim e não desejaria fazer, mas não há outro jeito. O escritor é um ser maldito", afirmou.
BIBLIOTECA BÁSICA
O VAMPIRO DE CURITIBA (1965)
EDITORA Record
QUANTO R$ 35 (112 págs.)
Mais conhecido livro do autor, deu a ele seu famoso apelido. Apresenta o personagem Nelsinho, obcecado por sexo
GUERRA CONJUGAL (1969)
EDITORA Record
QUANTO R$ 35 (144 págs.)
Os Joões e Marias dos contos condensam o drama humano e as mazelas sociais. Inspirou o famoso filme dirigido em 1976 por Joaquim Pedro de Andrade
A POLAQUINHA (1985)
EDITORA Record
QUANTO R$ 39 (172 págs.)
Único romance do escritor publicado até hoje, conta a vida e os amores de uma garota de programa, entre vampiros e mártires
DESGRACIDA (2010)
EDITORA Record
QUANTO R$ 45 (240 págs.)
Reunião de curtíssimas narrativas e cartas antigas enviadas a amigos -como Rubem Braga, Pedro Nava e Otto Lara Resende
ISTO É DALTON
1925
Dalton Jérson Trevisan nasce em 14 de junho em Curitiba, em uma família de classe média alta dedicada ao ramo da vidraçaria
1940
Funda o jornal estudantil "Tinguí", que circula até 1943. Dalton era editor, repórter, crítico e cronista, escrevendo com os pseudônimos Notlad, De Alencar, Don Nada, Faminto, Rapaz
1945
Publica o primeiro livro, "Sonata ao Luar". O trabalho seria depois renegado pelo autor, assim como o segundo livro, "Sete Anos de Pastor" (1948)
1946
Funda com amigos a revista modernista "Joaquim". A publicação circulou até 1948, teve 21 edições e contou com a colaboração de nomes como Antonio Candido, Mário de Andrade e Drummond. A este último, escreve: "A sua carta de estímulo valeu como o melhor prêmio e deu-nos mais vontade de queimar as últimas pontes".
1959
Lança "Novelas nada Exemplares", seu primeiro livro em edição comercial.
1964
Publicação de "Cemitério de Elefantes"
1965
Dalton publica um de seus clássicos,"O Vampiro de Curitiba". São 15 contos protagonizados por Nelsinho, o "vampiro", um curitibano obcecado por sexo que persegue velhinhas e virgens. Muito reservado, Dalton ganhou a alcunha de "Vampiro de Curitiba"
1968
Vence o 1º Concurso Nacional de Contos, no Paraná. É entrevistado por Luiz Vilela para o "Jornal da Tarde". Faz uma definição nada lisonjeira do próprio ofício: "O escritor é uma pessoa que não merece nenhuma confiança. Um amigo chega e me conta as maiores dores; eu escuto com atenção, mas estou é recolhendo material para um conto. [...] Sei que estou fazendo assim e não desejaria fazer, mas não há outro jeito".
1976
Estreia o filme "Guerra Conjugal", dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, adaptado do livro homônimo de Dalton.
1996
Recebe o prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra
2003
Vence a primeira edição do prêmio Portugal Telecom de Literatura com o livro "Pico na Veia"
2012
Recebe o prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa
2014
É publicado seu mais recente livro, "O Beijo na Nuca"
FOLHA DE S. PAULO
O Vampiro de Curitiba é repleto de singularidades. Circula apenas à luz do dia, de boné enterrado na cabeça, jaqueta, calça jeans e tênis, sempre olhando para o chão.
Com quase 90, Rubem escreve diariamente e puxa ferro na academia
Aparenta ter uns 20 anos a menos do que os 90 que completa mês que vem. É um senhor de estatura mediana, magro, de pele clara e cabelos brancos. O semblante possui uma quase candura, mas pode inspirar também um pavor vampiresco.
Toni D´Agostinho | ||
Dalton Trevisan |
"Já sei que você estava assediando meus amigos. Me deixe em paz", desconversou.
Uns dias antes dessa tentativa de conversa, um amigo do escritor relatou por e-mail: "Dalton está arisco. Sabe que vocês preparam matéria".
Após uma última insistência para responder ao menos uma pergunta, o mais recluso escritor brasileiro arrematou: "Não faço aniversário. E não falo. Está mais do que dito que eu não quero falar de nada".
A reportagem se despediu então com um pedido de desculpas, e Dalton seguiu seu percurso. Neste dia almoçou em um restaurante vegetariano (seu prato predileto da casa, sopa de beterraba, não foi servido) e tomou uma xícara de café com leite num quiosque do shopping da frente, onde vai quase diariamente.
HÁBITOS ANTIGOS
Dalton é um homem de hábitos arraigados. O mais marcante (e famoso) deles é o de isolar-se. Foge de exposição como um vampiro da cruz.
Concedeu sua última entrevista à imprensa há mais de 40 anos. Não aparece em eventos literários. Fotos, antigas ou recentes, são raríssimas. Pouquíssimos sabem o número de seu telefone (e os que sabem evitam ligar).
O círculo de amigos de Dalton é bastante restrito. É regido por um código interno severo: falar publicamente sobre ele pode acarretar o rompimento da amizade.
"O Dalton estabeleceu criteriosamente que a gente não pode fazer qualquer referência a ele. Uma vez me desviei um pouco e me arrependi profundamente. Ele ficou muito bravo", disse Hilton Trevisan, 92, irmão do autor.
Um exemplo famoso disso foi o rompimento com o escritor Miguel Sanches Neto, há uns 15 anos. Segundo declarações do ex-pupilo, a relação chegou ao fim porque Dalton atribuiu a ele informações sobre seus hábitos passadas a um jornalista.
Um pouco depois Sanches Neto começou a escrever "Chá das Cinco com o Vampiro", publicado em 2010, romance que enfoca, com muitos detalhes verídicos, o ambiente literário de Curitiba -e especialmente Dalton.
O Vampiro partiu para o ataque no poema "Hiena Papuda", em que chama Sanches Neto de "delator premiado".
De pista em pista, é possível juntar algumas peças do quebra-cabeça. Dalton continua a escrever todas as manhãs. A editora Record informou que não há nenhum novo livro em vista, mas amigos contam que o autor está sempre trabalhando em novas histórias ou na reelaboração, em geral mais sucinta e direta, de antigos contos. O mais recente livro de Dalton, "O Beijo na Nuca", foi publicado no ano passado. Muito prolífico, lançou sete livros nos últimos dez anos.
Um pouco antes do almoço sai para suas caminhadas pelo centro da cidade. Não tem problemas sérios de saúde. É bastante cuidadoso com a alimentação.
Mora sozinho numa casa de esquina bastante deteriorada. O terreno é grande -falam em até 5.000 m². Ao lado funciona uma sauna gay. Após queixas de Dalton, os proprietários tomaram providências para diminuir os barulhos.
Há testemunhos de que Dalton teria hoje uma namorada de menos de 30 anos, pesquisadora da obra dele. Mas mesmo os amigos mais íntimos do autor pouco sabem de sua vida privada.
Os bate-papos com ele giram basicamente em torno de dois temas, literatura e cinema.
Dalton é filho de uma família de classe média alta de origem italiana. O pai era dono de muitos imóveis e de uma fábrica de cerâmica e vidros.
Formou-se em direito pela UFPR, mas pouco exerceu a profissão. Foi casado por mais de 40 anos com Yole Maria Bonato Trevisan, tia do atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT).
As raras pessoas que foram próximas ao casal contam que o casamento passou por muitos percalços porque Dalton "era muito difícil". Tiveram duas filhas, Rosana e Isabel. Yole morreu de câncer em maio de 1998, aos 66.
Isabel, filha com quem tinha mais afinidade, morreu da mesma doença um pouco antes, com menos de 40. Em Curitiba moram os dois irmãos do escritor, a filha e duas netas. Dalton não mantém muito contato com nenhum deles.
Dos amigos ainda vivos, poucos conheceram Yole ou ouviram algum comentário de Dalton sobre ela. Alguns nem mesmo sabem responder se o escritor teve filhos e netos.
"Ele vive no mundo dele, na própria imaginação, que é muito rica. É a vida que ele escolheu", diz um parente.
ENCOMENDAS
Muito da ligação de Dalton com o mundo real se dá por meio da Livraria do Chain, no centro de Curitiba. É lá que o autor recebe encomendas, recados de amigos e pedidos de autógrafo deixados por fãs.
O proprietário é Aramis Chain, um simpático senhor de 72 anos de origem alemã, ucraniana e libanesa, casado com uma chinesa.
"Ele vem aqui, falamos de literatura, mas nada sobre vida pessoal. Eu não o apresento para os clientes, ninguém o reconhece. Ele pega uns livros e vai dar um volta, não sei por onde", comenta o livreiro Aramis Chain, 72.
A livraria serve ainda de contato entre Dalton e sua editora, a Record.Dalton escreve cartas à mão, que são escanedas na Livraria do Chain e remetidas por e-mail para a editora.
"Pode parecer uma comunicação formal, não deixa de ser, sobretudo se considerado o caráter excepcional de que a correspondência por carta se revestiu desde o surgimento do e-mail, mas é algo natural para nós, normal, e que se baseia no hábito, no costume, numa cultura de relacionamento de muitos anos -o que, por si só, carrega intimidade e afeto", afirma Carlos Andreazza, editor-executivo da Record.
Dalton publica pela Record desde 1978. Mesmo assim, o presidente da editora, Sérgio Machado, conta nunca tê-lo visto.
"Nos comunicamos por meio da Livraria do Chain. Eu ligo lá e digo que preciso falar com ele. Aí eles passam o recado."
TIMIDEZ
Dalton justifica sua reclusão alegando ser muito tímido. Os que convivem com ele garantem que é falante, bem-humorado. E muito curioso.
Embora tão cioso de sua privacidade, não se furta a escarafunchar a vida dos outros. Um amigo descreve os encontros como verdadeiros interrogatórios.
"A gente se reunia nas cafeterias, e ele fazia uma série de perguntas sobre passagens das nossas vidas, nossos amores e trabalhos. Eu também contava histórias de outros pessoas pra ele, casos que vi na rua. Depois ele dava uma 'daltonizada' e transformava tudo em conto. Ainda hoje ele tem diversos 'informantes', que fornecem histórias dos tipos marginais de Curitiba", relata o jornalista Carlos Alberto Pessôa, 72.
"Ele realmente chupa histórias das pessoas, como um vampiro", confirma outro amigo.
Numa rara entrevista que concedeu em 1968 ao jornalista e escritor Luiz Vilela, publicada no "Jornal da Tarde", Dalton declarou que todo "escritor é um monstro moral".
"O escritor é uma pessoa que não merece nenhuma confiança. Um amigo chega e me conta as maiores dores; eu escuto com atenção, mas estou é recolhendo material para mais um conto. E eu sei disso na hora. Surge então a má consciência. Sei que estou fazendo assim e não desejaria fazer, mas não há outro jeito. O escritor é um ser maldito", afirmou.
BIBLIOTECA BÁSICA
O VAMPIRO DE CURITIBA (1965)
EDITORA Record
QUANTO R$ 35 (112 págs.)
Mais conhecido livro do autor, deu a ele seu famoso apelido. Apresenta o personagem Nelsinho, obcecado por sexo
A Polaquinha |
Dalton Trevisan |
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EDITORA Record
QUANTO R$ 35 (144 págs.)
Os Joões e Marias dos contos condensam o drama humano e as mazelas sociais. Inspirou o famoso filme dirigido em 1976 por Joaquim Pedro de Andrade
A POLAQUINHA (1985)
EDITORA Record
QUANTO R$ 39 (172 págs.)
Único romance do escritor publicado até hoje, conta a vida e os amores de uma garota de programa, entre vampiros e mártires
DESGRACIDA (2010)
EDITORA Record
QUANTO R$ 45 (240 págs.)
Reunião de curtíssimas narrativas e cartas antigas enviadas a amigos -como Rubem Braga, Pedro Nava e Otto Lara Resende
ISTO É DALTON
1925
Dalton Jérson Trevisan nasce em 14 de junho em Curitiba, em uma família de classe média alta dedicada ao ramo da vidraçaria
1940
Funda o jornal estudantil "Tinguí", que circula até 1943. Dalton era editor, repórter, crítico e cronista, escrevendo com os pseudônimos Notlad, De Alencar, Don Nada, Faminto, Rapaz
1945
Publica o primeiro livro, "Sonata ao Luar". O trabalho seria depois renegado pelo autor, assim como o segundo livro, "Sete Anos de Pastor" (1948)
1946
Funda com amigos a revista modernista "Joaquim". A publicação circulou até 1948, teve 21 edições e contou com a colaboração de nomes como Antonio Candido, Mário de Andrade e Drummond. A este último, escreve: "A sua carta de estímulo valeu como o melhor prêmio e deu-nos mais vontade de queimar as últimas pontes".
1959
Lança "Novelas nada Exemplares", seu primeiro livro em edição comercial.
1964
Publicação de "Cemitério de Elefantes"
1965
Dalton publica um de seus clássicos,"O Vampiro de Curitiba". São 15 contos protagonizados por Nelsinho, o "vampiro", um curitibano obcecado por sexo que persegue velhinhas e virgens. Muito reservado, Dalton ganhou a alcunha de "Vampiro de Curitiba"
1968
Vence o 1º Concurso Nacional de Contos, no Paraná. É entrevistado por Luiz Vilela para o "Jornal da Tarde". Faz uma definição nada lisonjeira do próprio ofício: "O escritor é uma pessoa que não merece nenhuma confiança. Um amigo chega e me conta as maiores dores; eu escuto com atenção, mas estou é recolhendo material para um conto. [...] Sei que estou fazendo assim e não desejaria fazer, mas não há outro jeito".
1976
Estreia o filme "Guerra Conjugal", dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, adaptado do livro homônimo de Dalton.
1996
Recebe o prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra
2003
Vence a primeira edição do prêmio Portugal Telecom de Literatura com o livro "Pico na Veia"
2012
Recebe o prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa
2014
É publicado seu mais recente livro, "O Beijo na Nuca"
FOLHA DE S. PAULO
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