Pessoa. Um coleccionador de Eus
Porquê coleccionar?
Ao longo da vida encontramos pessoas que perseguem objectos que reúnem determinadas características relacionadas com os seus interesses pessoais. São objectos que possuem memória afectiva. São símbolos e por isso mesmo adquirem uma enorme importância para quem os colecciona.
Em cada objecto de uma colecção, o coleccionador encontra uma característica, uma peculiaridade, algo distinto e único que se torna ainda mais valioso porque extraído da grande figura de estilo da Vida: a Comparação!
Passamos a nossa vida a comparar coisas e pessoas.
Pessoa, esse Poeta Plural, preferiu incorporar vários tipos de pessoas dentro de si; tornando-se um grande coleccionador de “Eus”, de personalidades humanas, distintas umas das outras e isso fez dele um grande psicólogo com vários chapéus!!! Ele conseguiu pôr-se no lugar dos outros, experimentou os seus desassossegos, as suas paixões, as suas pequenas mortes…
E fez algo que é considerado o exercício básico de toda a Psicologia: o role playing.
Outros há que preferem colecionar pessoas, relações e entrarem num desfile social da moda do casa e descasa!
E ainda há aqueles que preferem andar em busca perpétua daquela peça, daquele objecto, daquele príncipe ou princesa, quais alpinistas insatisfeitos á procura da Terra do Nunca!
Seja como for, a Vida é simbólica e nela tudo é símbolo, como afirmou Pessoa. Logo, não é de estranhar a paixão dos humanos pelas colecções. É tudo uma questão de perspectiva. Os coleccionadores fazem Zoom, afunilam o olhar e detêm-se na presa a conquistar, especializam-se numa determinada caça com os seus olhos de lince!
Pessoa, também ele fez Zoom e se especializou na dupla função dos símbolos: revelar e esconder. Revelou vários “Eus”; toda uma pluralidade de rostos e escondeu-se por detrás de cada um deles, como se por detrás de cada biografia se encontrasse um biombo!
Assim é a Vida: feita de biombos e biografias, de símbolos, colecções e escolhas que constroem e destroem a nossa identidade, a cada passo…
Por isso, o grande lema do conhecimento poderia ser este: “Para conhecer é preciso ler dentro das coisas”!
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