quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Braulio Tavares / Tome uma pela gente



Braulio Tavares
TOME UMA PELA GENTE

Quinta-feira, 7 de novembro de 2013

De vez em quando um governo proíbe o consumo de uma droga bem popular no país, com as consequências que já se sabe. Cem anos depois, a droga volta de vento em popa, e do Governo que a proibiu só restam bustos de gesso, medalhas comemorativas e nomes de ruas.

Foi o caso da Lei Seca, quando os EUA proibiram que se bebesse bebida alcoólica no país. Durou de 1920 até 1933, e, como disseram vários historiadores, ali nunca se bebeu tanto, e nunca se bebeu tão mal. Arthur Machen afirmou: “Proíbam um homem de beber uma bebida alcoólica decente, e em breve ele estará alegremente bebendo álcool puro”. Os norte-americanos beberam álcool impuro durante 13 anos. O uísque era fabricado nas banheiras dos apartamentos, com ingredientes improvisados, e vendido por qualquer preço. A Máfia, um obscuro grupo de bandidos imigrantes, tornou-se uma das principais forças do crime organizado no país, graças à fabricação e venda daquilo que o Governo, ao invés de administrar, resolveu proibir. Triste do poder que não pode.
Li a notícia (http://bit.ly/1bshw4N) de que numa reforma realizada num dos edifícios da Universidade de Fairleigh (em New Jersey) foi encontrada uma lata de tabaco contendo uma folha manuscrita, uma verdadeira “cápsula do tempo”. A lata estava embutida numa das paredes; quando foi aberta, encontrou-se a nota que dizia: “Estes banheiros foram remodelados em 1932. E. J. Parsons de Morristown fez os encanamentos, e Edw F Daniher de St Madison fez o revestimento. Outros homens que aqui trabalharam foram: (... – segue-se uma lista de nomes.) Foi durante a Lei Seca, e foi um trabalho feito sem tomar uma dose sequer. Quem encontrar esta nota, se a Lei no. 18 tiver sido revogada, tome uma pela gente”.

A Lei 18 era justamente a que entrou em vigor em 17 de janeiro de 1920, proibindo as bebidas alcoólicas. Atentem para o detalhe subversivo da “cápsula”, porque quem a colocou ali não hesitou em dar os nomes dos envolvidos no trabalho, e, mesmo admitindo que não tinham bebido nada durante aquele período, o teor da mensagem podia ser considerado (e certamente seria, basta imaginar as figuras que lessem aquilo) uma “apologia do uso das drogas”.

Um professor da Universidade local explica que (como sempre) a Lei só serviu para os pobres. Antes da sua promulgação, Ruth Vanderbilt Twombly, da elite local, “fez estocar na região uma tal quantidade de bebida que durou os treze anos da Proibição, e dava festas em estilo Grande Gatsby para mais de 600 pessoas”. Os operários não bebiam – assim como os remadores de Ulisses, na Odisséia, não tinham permissão para ouvir o canto das sereias. Quanto mais muda mais continua a mesma coisa.

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