Stephen Hawking |
Stephen Hawking morre aos 76 anos
O reconhecido pesquisador britânico, que popularizou a ciência, faleceu em sua casa em Cambridge
Pablo Guimón
Londres, 14 mar 2018
O físico britânico Stephen Hawking, o cientista que explicou o universo de uma cadeira de rodas e aproximou as estrelas de milhões de pessoas ao redor do mundo, faleceu nesta madrugada em sua casa de Cambridge (Inglaterra), aos 76 anos.
“Estamos profundamente entristecidos com o falecimento do nosso amado pai hoje”, dizem seus três filhos, Lucy, Robert e Tim, em nota publicada na primeira hora da manhã de quarta-feira. “Era um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado sobreviverão por muitos anos. Sua coragem e persistência, com seu brilho e humor, inspiraram pessoas no mundo inteiro. Certa vez disse: ‘O universo não seria grande coisa se não fosse lar das pessoas que você ama’. Sentiremos sua falta para sempre”.
Aos 22 anos, Stephen Hawking foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, ELA, e os médicos lhe deram apenas dois anos de vida. Mas viveu mais 54 anos. A doença o deixou em uma cadeira de rodas e incapaz de falar sem a ajuda de um sintetizador de voz. Reduziu o controle de seu corpo à flexão de um dedo e ao movimento dos olhos. Seu intelecto avassalador, sua intuição, sua força e seu senso de humor, combinados com uma doença destrutiva, transformaram Hawking em símbolo das infinitas possibilidades da mente humana, e de sua insaciável curiosidade.
“Apesar de haver uma nuvem sobre meu futuro, descobri, para minha surpresa, que desfrutava mais do que nunca da vida no presente”, disse Stephen Hawking em uma ocasião. “Meu objetivo é simples. É um completo conhecimento do universo, por que ele é como é e por que existe”.
Amigos e colegas da Universidade de Cambridge prestaram uma homenagem produzindo um vídeo sobre a trajetória de Stephen Hawking – referindo-se a ele como o “professor Hawking”, como era mencionado no mundo da ciência – e um texto em cujo penúltimo parágrafo se resume uma palestra do professor em seu 75º aniversário: “Foi um momento glorioso estar vivo e pesquisar sobre física teórica. Nossa imagem do Universo mudou muito nos últimos 50 anos, e estou feliz de ter feito uma pequena contribuição”.
O professor Stephen Toope, vice-reitor da Universidade de Cambridge, também o homenageou com estas palavras: “O professor Hawking foi um pessoa única que será lembrada com carinho e afeto não só em Cambridge, mas no mundo inteiro. Suas contribuições excepcionais para o conhecimento científico e a popularização da ciência e a matemática deixaram um legado indelével. Sua personagem foi uma inspiração para milhões. Ele fará falta.”
Nascido em 8 de janeiro de 1942 em Oxford (embora sua família morasse em Londres), Stephen William Hawking já se destacava no colégio do St. Albans, cidade para onde seu pai se mudou. Ali os colegas o apelidaram de “Einstein” por seu interesse pela ciência.
Hawking saltou para a fama junto a seu colega Roger Penrose no final da década de 1960. O motivo, sua teoria da singularidade do espaço-tempo. Os dois físicos aplicaram a lógica dos buracos negros ao universo inteiro, assunto que o primeiro detalharia mais tarde para o grande público em Uma Breve História do Tempo, do Big Bang aos buracos negros (1988).
A partir dos 21 anos, a doença condicionou a vida de Hawking. A ELA destruiu pouco a pouco seu corpo, sua capacidade motora, seus músculos. Primeiro deixou-o em uma cadeira de rodas e logo tirou a capacidade de falar. Além de seu brilhantismo e suas qualidades de divulgador, Hawking se transformou em uma estrela mundial por causa da obstinação com que se agarrou ao mundo. Em 1985, uma pneumonia piorou sua saúde, obrigando-o a respirar por um tubo. Nunca mais pôde usar a voz. O físico optou então por um artefato eletrônico, um sintetizador de voz, para driblar o silêncio. A voz robótica do Stephen Hawking se transformou em parte de sua lenda.
Os buracos negros marcaram sua vida. Em janeiro de 2014 apresentou um polêmico artigo defendendo que não existiam. Ao menos que não existiam da forma como eram entendidos até então. Um buraco negro é um lugar de grande densidade e energia. A teoria dizia que a partir de certo ponto, a energia – a luz – não poderia escapar de sua gravidade. Hawking argumentou que poderia sim, que não existia um horizonte de eventos, isto é, um ponto de não retorno, mas um horizonte aparente. Assim, o buraco negro conteria a energia durante algum tempo antes de deixá-la escapar.
Em entrevista concedida ao EL PAÍS em 2015, o físico se referiu à vida extraterrestre, uma de suas últimas obsessões. “Se os extraterrestres nos visitassem, o resultado se pareceria muito ao que aconteceu quando Colombo desembarcou na América: não foi bom para os nativos americanos. Esses extraterrestres avançados poderiam se tornar nômades e tentar conquistar e colonizar todos os planetas a que pudessem chegar. Para meu cérebro matemático, de números puros, pensar em vida extraterrestre é algo totalmente racional. O verdadeiro desafio é descobrir como poderiam ser esses extraterrestres.”
O diretor do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC), Rafael Rebolo, recorda Hawking como uma “mente brilhante presa em uma jaula”, depois de conversar com ele em suas três visitas a suas instalações. Dessa relação surgiu a ideia de nomeá-lo professor honorário do IAC, coisa que o britânico aceitou de bom grado. “Tinha grandes inquietações e sempre tentava formular perguntas sobre nosso trabalho, se encontraríamos planetas similares à Terra”, relembra Rebolo, que não se esquece da primeira pergunta que o famoso astrofísico lhe fez, se os telescópios Cherenkov que estão sendo instalados em La Palma poderiam confirmar a radiação de Hawking, chamada assim em seu nome. O IAC tinha planos de construir um edifício em suas instalações para dar um escritório a seu único professor honorário, e Rebolo insiste na ideia de levantar o edifício e dar-lhe o nome de Stephen Hawking, que dependerá do orçamento da prefeitura de Tenerife, informa Javier Salas de Tenerife.
Sua vida, tanto no âmbito profissional como no pessoal, foi um desafio aos limites. Stephen Hawking viajou por todos os continentes, incluindo a Antártida. Ganhou prêmios, entre eles o Fronteiras do Conhecimento da Fundação BBVA em 2016, mas não o Nobel. Casou-se duas vezes, foi pai de três filhos. Tornou-se uma espécie de ícone pop, que apareceu em séries como Os Simpsons e The Big Bang Theory, da qual se declarava fã. Celebrou seus aniversário de 60 anos subindo em um globo aerostático. Cinco anos depois, experimentou a gravidade zero a bordo de um Boeing 727. Quando lhe perguntaram por que fazia tudo isso, respondeu: “Quero demonstrar que as pessoas não devem se limitar por suas deficiências físicas se o seu espírito não estiver deficiente.”
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