A morte de Gabriel García Márquez, o Nobel colombiano, Gabo, Gabito, como todos o chamavam, um dos escritores mais famosos do século XX e sem dúvida o colombiano mais importante da história recente, deixou ontem o país que o viu nascer há 87 anos escondido em um pranto inconsolável. A dor por sua morte só encontrou alívio nas recordações de seu incalculável legado à cultura e às artes para todo o mundo.
O presidente Juan Manuel Santos decretou três dias de luto oficial. Em um pronunciamento ao país, Santos elogiou o Nobel colombiano: “Em homenagem à memória de ]Gabriel García Márquez, decretei luto nacional por três dias e dei ordem de que todas as instituições públicas coloquem suas bandeiras a meio-mastro, como esperamos que também façam os colombianos em suas casas”. O presidente classificou o escritor como “o compatriota mais querido e admirado de todos os tempos (...) o colombiano que, em toda a história do país, mais longe e mais alto levou o nome da pátria”.
Logo depois de divulgada a notícia da morte do colombiano, por volta das três da tarde no horário local, Santos enviou uma mensagem de condolências à viúva Mercedes Barcha e a seus filhos Gonzalo e Rodrigo, por meio de sua conta no Twitter: “Mil anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos! Solidariedade e condolências para a Gaba e a família”.
Quem também reagiu com rapidez foi o ex-presidente e amigo pessoal de Gabo, o conservador Andrés Pastrana Arango, que colocou em sua conta no Twitter um link para uma entrevista que concedeu ao Nobel dias antes de ele receber o prêmio. “O mundo das letras está de luto. Adeus, amigo Gabo!”, escreveu.
Outro que expressou seu pesar pela morte do novelista foi o escritor Santiago Gamboa. Da Itália, onde mora, lembrou que “um dos autores mais influentes da América Latina... García Márquez fez uma obra tão potente que chegou a ultrapassar a realidade. A América Latina era uma imagem que provinha de Gabo, pela forma como ele a colocou no mapa para sempre”. O escrito Oscar Collazos, de sua parte, disse: “O que nos resta é o que ele nos quis deixar em vida: duas obras literárias. E isso as aves carniceiras não comem. Paz em sua tumba!”
Jaime Alberto Banfi, diretor da Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano (FNPI), que Gabo criou em 1994, publicou uma carta no site da FNPI depois de saber da notícia da morte do escritor: “Nosso querido Gabriel García Márquez se foi fisicamente, mas permanecerá vivo entre nós através de suas ideias, seus textos, sua memória em milhões de pessoas que lhe amam em todo o mundo e pelo legado representado no trabalho de suas fundações e escolas de jornalismo e cinema. Em sua fundação, em Cartagena, a FNPI, nos sentimos orgulhosos de poder ter desfrutado da orientação, acompanhamento e amizade do Gabo jornalista e educador, comprometido a fundo com o jornalismo como uma paixão de toda a vida e como uma forma de exercer cidadania ativamente”. Na linha seguinte, Abello deu seu último adeus ao mestre: “Obrigado, mestre Gabo. Viaja tranquilo, porque continuarás vivo entre nós”. Recentemente a FNPI editou o livro Gabo Periodista, em que vários influentes colegas recordam os passos do escritor como jornalista, atrás das melhores reportagens que ele publicou em meios de comunicação da Colômbia e de todo o mundo.
A ministra de Cultura, Mariana Garcés, disse que a notícia deixa o país de luto porque o escritor era o colombiano mais universal, o que conseguiu mostrar “a Colômbia, Macondo e o Caribe através de suas obras”. A ministra disse que, depois que a família passe pelos impacto da notícia da morte, será procurada para que se combine como será o funeral. Então, o Governo colombiano divulgará as homenagens que renderá ao Nobel colombiano em seu país natal.
A escritora Piedad Bonnett destacou a este diário que o maior legado de Gabo foi haver encontrado uma linguagem particular “para mostrar quem somos”. “Ele teve o dom de se reinventar. Sempre foi um buscador. Não foi apenas o narrador do realismo mágico”, acrescentou.
Para Juan Manuel Roca, um dos poetas mais destacados da América Latina, a busca incansável por encontrar uma voz e um mundo pessoais motivou todos os atos da vida de García Márquez. “A lição dele é, sem dúvida, extraordinária. Viveu à plenitude e acima de tudo para a literatura. Sempre o acompanharam o talento e o rigor, um combinação afortunada e não muito frequente”, disse o poeta colombiano, que acrescentou que esta vocação fez do escritor “um marco na literatura, uma grande Babel de línguas e culturas do mundo”.
Para Roca, a paixão narrativa do Nobel não teve trégua. “Era como se cada novo dia dele fosse um futuro já alcançado, uma pequena estação que o convidava a começar do zero, de frente para uma folha em branco”. Agora, Gabo deixou de escrever, mas Roca assegura que “ao contrário de seu lendário e erguido coronel, um aposentado de tantas batalhas, centenas de pessoas escreverão para ele por mais de cem anos”.
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